sábado, 3 de abril de 2010

No ônibus

Era mais uma terça-feira de trabalho. A professora estava usando seu uniforme limpinho e cheiroso. Suspirou ao fazer sinal para o único ônibus que a levaria até seu local de trabalho. Cheio! “Tomara que a minha meia-calça aguente”. Como toda mulher que se preze, ela odiava meia com fio puxado, por menor que fosse.

Entrou pela porta da frente, passou pelos idosos, apresentou a passagem ao cobrador. Olhou para o fim do ônibus. Havia mais espaço lá. Tentou passar por uma senhora com uma bolsa enorme. Esta a olhou de cara feia. Dificultou a passagem, mas cedeu.

A professora continuou dirigindo-se para o fim do ônibus. Ao meio, passou por alguns homens suados usando camisetas. “Hum... mas que cheiro!”. Tentou disfarçar o constrangimento. Baixou a cabeça. Olhou pro lado. Começou a sentir náuseas. Segurou firme no balaustre e tentou puxar-se dali rapidamente. Após algumas tentativas, conseguiu. Finalmente estava perto da porta. Aquele odor tomara todo o ônibus. Fez sinal e assim que o ônibus parou, desceu.

Ainda faltavam algumas quadras para chegar até a escola. Apressou o passo para chegar até lá em tempo. Enquanto andava, procurava na bolsa algum perfume, sabonete, lenço perfumado, enfim, algo que pudesse cheirar e fazer seu nariz esquecer o que havia aspirado.

Chegou à escola, lavou as mãos, buscou os alunos na fila, levou-os para a sala, sempre acompanhada pelo mesmo odor. Dentro da sala de aula, enquanto os alunos concluíam uma atividade proposta, ela reparou na manga do uniforme: estava manchada. Quando ela passara pelos homens usando camisetas, ela encostara-se a um deles e o suor sujara sua roupa. Ela passou o dia usando aquele uniforme e aguentando aquele odor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário